sábado, 15 de janeiro de 2011

Ser discípulo, ser apóstolo: respostas para os apelos de um novo tempo!

Um tempo novo, novas oportunidades, uma nova chance para construir-se, portas e janelas escancaradas para acolher e sair de si, olhos e ouvidos bem atentos para ver, ouvir o que Deus mostrar, os caminhos que se abrem. Isso, caro Filoteu não acontece só em grandes oportunidades ou em momentos solenes, especiais. Não só nos chamados "tempos fortes" (Advento-Natal, Quaresma-Páscoa), mas deve acontecer a cada dia, a cada instante. Depende muito das escolhas que fazemos, das atitudes e iniciativas, criativas e corajosas que podemos e devemos assumir. Somos chamados a crescer, a amadurecer a dar passos de superação com tudo isso.
Olha só o que São João da Cruz fala das almas bem encaminhadas:
"(...) não se apegam aos instrumentos visíveis, nem se prendem a eles; só lhes importa saber o que convém para obrar, e nada mais. Põem os olhos unicamente em agradar a Deus e andar bem com ele, pois este é todo o seu desejo. Assim, com grande generosidade, dão quanto possuem, tendo por gosto privar-se de tudo por amor de Deus e do próximo, tanto no espiritual como no temporal. Porque como digo, só têm em mira as verdades da perfeição interior: dar gosto a Deus em tudo, e não a si mesmos em coisa alguma" (Noite Escura, Livro I, cap. III, n. 2).
O Tempo Comum no qual entramos nesta segunda feira passada é constituído por 33/34 semanas, distribuídas entre o Batismo de Jesus e a Quaresma (primeiro período) e entre o domingo da Trindade e a solenidade de Cristo Rei (segundo período). O Tempo Comum não celebra um ou outro aspecto particular do mistério de Cristo, como acontece, por exemplo, com o Advento-Natal ou a Quaresma-Páscoa, mas celebra o mesmo mistério na sua globalidade. Realiza isso pela constante referência à páscoa que caracteriza os domingos, assim acompanhando e orientando o caminho pascal do povo de Deus no seguimento de Jesus, rumo ao cumprimento da história. Por isso mesmo, digo a ti, Filoteu, é o tempo em que, sem festividades específicas, não celebraremos algo muito particular, mas o Cristo Senhor estará, nas mesmas coisas de sempre, sendo amado, servido, proclamado, enfim, será Ele o Cristo.
Daí, pensei em papear contigo sobre essa atitude do discípulo, isto é, do seguidor, do convicto e alegre seguidor, do imitador. Um alguém que quer aprender, quer ser corrigido para se transformar, se superar sempre mais. Longe da mediocridade, quer aquecer o coração e alargar horizontes. O discípulo é um alguém que se decidiu por Deus pois Deus o escolheu e ele dará a vida para responder a tão grande dom de eleição divina, quer ser amigo de Deus, de verdade. Sobre o seguimento de Jesus Cristo, o documento de Aparecida (n. 18) tem um trecho lindo, lindíssimo, aliás e altamente comprometedor:
"Conhecer a Jesus Cristo pela fé é nossa alegria; segui-lo é uma graça, e transmitir esse tesouro aos demais é uma tarefa que o Senhor nos confiou ao nos chamar e nos escolher. Com os olhos iluminados pela luz de Jesus Cristo ressuscitado, podemos e queremos contemplar o mundo, a história, os nossos povos da América Latina e do Caribe, e cada um de seus habitantes".
Por isso, voltado para a proclamação de João, mostrando o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1, 29). Chamando Jesus de Cordeiro, ele nos lembra o sacrifício da vítima inocente de expiação dos pecados do mundo, o servo apresentado por Is 53, símbolos fortes da redenção de Israel. Do livro do profeta Isaías lembro o versículo 4 onde está escrito: "E no entanto, eram as nossas enfermidades que ele levava sobre si, as nossas dores que ele carregava".
Sabe Filoteu, o Fr. Patrício me ajuda novamente com sua profunda reflexão a respeito deste tema. Ele lembrava a auto-suficiência do mundo que não precisa de Deus e dos outros, de modo a poder salvar-se somente com suas próprias forças. Heresias vindas das mau interpretadas conquistas da tecnologia, da ciência e do conhecimento, fizeram de cada mulher e de cada homem, um deus para si mesmo e quem sabe, para os outros. E assim, vive-se essa ausência de sentido cheia de um vazio penoso, sofrido. E multiplicam-se as falsas alegrias, os mitos inconsistentes de uma felicidade postiça, superficial e transitória, miseravelmente transitória! Uma vez escutei uma pessoa dizendo que tudo é passageiro, com excessão do motorista e do trocador. Se o motorista é Jesus e tu és o trocador, acho que não te cabe apegar-se a nada. Dá de tuas riquezas aos teus irmãos e irmãs. Acolhe o que de bom eles têm a te dar e sob o comando do Senhor deixa eles entrarem e sê acolhedor com todos. Mas cuidado, não os detenhas: deixa-os ir, quando estiver na hora de descer!
O Cordeiro de Deus tira o pecado. O que é o pecado? Êta pergunta difícil, êta pergunta polêmica, ainda mais num mundo onde o certo e o errado dependem dos gostos ou das conveniências de cada um! O pecado é estar fora da vontade de Deus, é ofendê-lo de forma consciente e livre. E daí vem o grito forte e violento da consciência que estamos longe dele, nos afastamos dele. Olha Filoteu, eu te digo, é preciso estarmos bem atentos ao grito de Pio XII que a seu tempo (onde nem tinha tanta descristianização assim!) que alertava que a humanidade estava perdendo o senso do pecado. São Basílio Magno, bispo e doutor do IV século disse algo muito interessante. Vê só:
"Ora o pecado se define como mau uso, o uso contrário à vontade de Deus daquilo que ele nos deu para o bem. Pelo contrário, a virtude, como Deus a quer, é o desenvolvimento destas faculdades que brotam da consciência reta, segundo o preceito do Senhor" (da regra mais longa de São Basílio Magno, Resp. 2, 1; PG 31, 908-910).
Vê só Filoteu! Aqui cabe um exame de consciência daqueles de arrasar e reconstruir, daquele de por abaixo e edificar sem medo e sem hesitação algo de bom, duradouro, verdadeiro no serviço e na paixão por Jesus. Pensei seriamente nestes desabamentos e demais catástrofes provocadas pelos dilúvios acontecidos no estado do Rio de Janeiro. Um cenário devastador, com certeza. Merece uma mobilização em favor das pessoas penalizadas de tantas formas e maneiras. Vidas ceifadas que choraremos e haveremos de rezar pelo seu repouso. Dá pra entender ou intuir que de verdade tudo passa (de um jeito ou de outro). Já se vê uma primavera de solidariedade naquele mar de lama e de sofrimento. Entretanto pensei quantas catástrofes acontecem no mundo espiritual onde um mar de lama de pecado sufoca e mata tanta gente; e, em nome da liberdade individual, adota-se a política do deixa como é que está pra ver como é que fica. Afinal, o mundo está se perdendo mesmo! Não raramente, o risco de contentar-se com aquele grupinho que frequenta a Igreja no domingo parece consolar e achar que dá pra tocar a vida assim mesmo. Mais que nunca, se faz necessária uma corrente de mobilização para resgatar os que vivem no pecado com a consciência adormentada por tantas distrações ou morta por causa de tantas situações de fechamento ou endurecimento. Pensei nos risco dos quais devemos nos precaver para não virmos abaixo também os que temos alguma caminhada no serviço do Senhor. Já se vê essa atenção, esse compromisso, esse interesse pelo verdadeiro bem do próximo, especialmente o próximo distante de Deus e de sua vontade. É preciso brotar no peito dos fiéis cristãos um coração cheio de caridade pastoral, repleto dos sentimentos do bom Pastor que dá a vida por suas ovelhas.
Volto para o documento de Aparecida:
"Aqui está o desafio fundamental que afrontamos: mostrar a capacidade da Igreja para promover e formar discípulos e missionários que respondam à vocação recebida e comuniquem por toda parte, transbordando de gratidão e alegria, o dom do encontro com Jesus Cristo. Não temos outro tesouro a não ser este. Não temos outra felicidade nem outra prioridade senão a de sermos instrumentos do Espírito de Deus na Igreja, para que Jesus Cristo seja encontrado, seguido, amado, adorado, anunciado e comunicado a todos, não obstante as dificuldades e resistências. Este é o melhor serviço - o seu serviço! - que a Igreja deve oferecer às pessoas e nações" (n. 14).
Esse mesmo Jesus que é anunciado é o ungido com o Espírito Santo que paira sobre ele. João Batista o reconhece exatamente por este sinal: "Vi o Espírito descer, como uma pomba vindo do céu, e permanecer sobre ele. Eu não o conhecia, mas aquele que me enviou para batizar com água disse-me: 'Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer é o que batiza com o Espírito Santo'. E eu vi e dou testemunho que ele é o Eleito de Deus" (Jo 1, 32-34). Assim, como o Espírito esteve sobre Jesus resta-nos desejar e pedir para que esteja sobre nós também para que as pessoas vejam e experimentem. Com certeza, não podemos duvidar que a mensagem que anunciamos seja fraca ou incapaz de atingir as pessoas hoje. Claro, um novo ardor, uma nova metodologia, novos meios devem ser utilizados. Não dá mais pra repetir fórmulas, modelos, esquemas que não respondem mais. Mas, com a força do Espírito e com evangelizadores convicto, claro que a mensagem continua sendo propositiva, atraente. O Senhor também batiza hoje com o Espírito Santo. E esse batismo é um dom, é um mergulho, um entrar no oceano do amor divino, na plenitude do Altíssimo que haverá de criar um novo homem, uma nova mulher, um novo ser. Uma aventura nova irá começar, novos desafios e alegrias se sucederão, onde acontecimentos, coisas, pessoas, estruturas, projetos entrarão em cena não para ficar, mas para ajudar a acontecer essa construção de uma história de salvação repleta de eternidade no coração do eleito. Desapegado e livre, desejoso de crescer e aberto para Deus, esse evangelizador é antes de tudo um discípulo, um amigo de Deus. Não é um funcionário, um mero operário. É um missionário.
Que o Espirito de Deus também repouse sobre ti e deixo essa reflexão, esperando no Senhor que te faça bem.
Quer rezar comigo e com o salmista?
"No Senhor nós esperamos confiantes
porque ele é nosso auxílio e proteção!
Por isso, nosso coração se alegra nele,
seu santo nome é nossa única esperança.
Sobre nós venha, Senhor a vossa graça,
da mesma forma que em vós nós esperamos!"
[Sl 32 (33), 20-22).


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