quinta-feira, 24 de março de 2011

PAPOPIRADO AGORA É RAPADURA ESPIRITUAL

ATENÇÃO A VOCÊ QUE ME SEGUE NO BLOG PAPOPIRADO! NASCEU O BLOG "RAPADURA ESPIRITUAL" QUE SUBSTITUIRÁ ESSE DO PAPOPIRADO.
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DEUS O ABENÇOE!
Pe. Marcos.

sábado, 19 de março de 2011

José, o justo a quem Deus confiou o governo de sua casa!

Caro Filoteu, amigo de Deus!

   Hoje celebramos São José. Dia 19 de março é uma data preciosa. Esse pobre carpinteiro, feito por Deus guardião de sua casa, se apresenta como um exemplo fabuloso, maravilhoso de tantas virtudes. O que mais me impressiona neste homem de Deus é, além de sua fé de proporções abraãmicas, sua humildade e sua generosidade em responder de forma positiva e operante aos apelos e indicações divinas.Impressionante! E, a Ele, o Pai do Céu confiou o governo de sua casa. Uma casa pobre, claro (Deus tem mania de pobreza! Pooodde? Pode! Ele não pensa como os homens e mulheres pensam!). Qual casa? Ora, a casa de Nazaré, a pequena cidade que nem gozava de boa fama por ser um lugarejo insignificante e perdido no mapa. Mas, foi lá que o Verbo eterno feito gente cresceu!!! Nazaré, casa do operário e da dona de casa, casa do menino que aprendeu o ofício de carpinteiro (que naquela época era também pedreiro, numa palavra, um operário).
    A caminhada desse homem foi cheia de fé. Sem dúvida, cheia de fé. Deus parecia desconcertante com José, pois os caminhos do Filho de Deus, já desde sua infância se apresentava cheio de mistérios. Um desses mistérios foi sem dúvida as perseguições de Herodes e a pobreza que insistentemente o Pai do Céu queria e insistia que seu eterno Filho, chamado filho do carpinteiro, vivesse. José foi um homem de fé. Ele creu, isto é, ele acreditou. Confiou em Deus e ao Todo Poderoso confiou sua vida e colaborou da melhor forma que pode. A impressionante humildade desse santo patriarca se caracterizou sobretudo pelo seu escondimento. Sim, escondimento. Não aparece! Não existem registros que ele tenha dito alguma coisa. Mas, Deus via o seu José! Via aquele homem que viveu segundo o seu coração. Um sinal e um exemplo pra nós, Filoteu, já que tem uma tendência na humanidade ao estrelismo, ao exibicionismo, ao buscar reconhecimento, a se magoar demais com a ingratidão. No fundo, falta aquilo que em José havia de sobra: LIBERDADE INTERIOR! O tesouro dos tesouros.
     Olha, Filoteu, São José foi um homem de fé! Com certeza. Por isso, diz João Paulo II na encíclica "Redemptoris Custos" sobre a figura e sobre a missão de São José na vida de Cristo e da Igreja:
    "Se Isabel disse da mãe do Redentor: 'Bem-aventurada aquela que acreditou', se pode em certo sentido referir essa bem-aventurança também a José, porque responde afirmativamente à palavra de Deus, quando lhe foi transmitida naquele momento decisivo. Na verdade, José não responde ao 'anúncio' do anjo como Maria, mas 'fez como lhe ordenou o anjo do Senhor e a recebeu como esposa'. Isso que ele fez é puríssima 'obediência da fé' (cf. Rm 1, 5; 16, 26; 2Cor 10, 5-6)" (Redemptor Custus, n. 4).
     Foi sob os cuidados deste santo homem, a quem Jesus se submeteu, que o Verbo eterno de Deus, isto é, Jesus Cristo, crescia em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens. José foi um alguém que ajudou nesse crescimento. Sabe Filoteu, oferecer elementos e meios para que a vida de Cristo cresça em nós é fundamental para que sejamos cristãos. Penso eu que, com certeza, se nos confiarmos a José, esse homem justo que tão intimamente conviveu com o Divino Salvador, seremos particularmente ajudados para que esse mesmo Jesus cresça em nós e faça de nós seus amigos e servidores. Acho estratégico pedir a José sua intercessão e patrocínio para podermos, como seus filhos, assumirmos os traços daquele menino, adolescente e jovem que o senhor da casa de Nazaré viu crescer. Que tal? Acho que o santo ficará bem satisfeito com isso.
Tem um outro ponto que gostaria de partilhar contigo, Filoteu. Se São José foi um alguém que partilhou de um familiar convívio com Nosso Senhor e se Jesus o respeitou e obedeceu, tal respeito e tal reverência continua a dar-lhe no céu. Por isso, tenho certeza que o humilde carpinteiro de Nazaré é grande intercessor junto de seu tão querido filho adotivo. Grande, sem dúvida, é o prestígio desse santo junto a Deus. Santa Teresa, uma grande devota deste santo, dá um belo testemunho do poder de intercessão deste glorioso patriarca:
    "Assim, tomei por advogado e senhor, o glorioso São José, encomendando-me muito a ele. Vi com clareza que esse pai e senhor meu me salvou, fazendo mais do que eu podia pedir, tanto dessa necessidade como de outras maiores referentes à honra e à perda da alma. Não me lembro até hoje de ter-lhe suplicado algo que ele não tenha feito. Espantam-me muito os grande favores que Deus me concedeu através desse bem-aventurado Santo e os perigos, tanto do corpo como da alma de que me livrou. Se a outros santos o Senhor parece ter concedido a graça de socorrer numa determinada necessidade, a esse Santo glorioso, a minha experiência mostra que Deus permite socorrer em todas, querendo dar a entender, que São José por ter-Lhe sido submisso na terra, na qualidade de pai adotivo, tem no céu todos os pedidos atendidos" (Livro da Vida, cap. 6, n. 6).
   Por fim, o fato de ter morrido nos braços de Maria e de Jesus, a tradição o considera patrono da boa morte. Aqui, não há o que fundamentar muito. É evidente que os que, como José vivem essa fidelidade em fazer a vontade de Deus, haverão de ser muito felizes, nessa e na outra vida. É caminho seguro esse que o José de Jesus e de Maria nos oferece para sermos pessoas autenticamente felizes.
    Um abraço para ti, Filoteu e que São José reze por nós todos. Faço minha a prece de São Bernardino de Sena:
     "Lembrai-vos de nós, São José, e intercedei com vossas orações junto de vosso Filho adotivo; tornai-nos também propícia vossa Esposa, a santíssima Virgem, mãe daquele que vive e reina com o Pai e o Espírito Santo pelos séculos sem fim. Amém"
     

terça-feira, 15 de março de 2011

Oração: um compromisso, uma respiração, um viver!

Oi Filoteu!

   A oração é o grande tema desta terça-feira de quaresma. Trata-se de um diálogo com o Pai. Jesus, Filho de Deus, que é Deus com o Altíssimo, nos ensina a falar com esse mesmo Pai, fonte e origem de tudo, Pai provedor amigo dos seus filhos. E isso é tão importante que podemos dizer que a oração é a respiração da vida interior. Claro, entende bem: não podemos estar rezando e conversando com Deus o tempo todo. Várias ocupações não permitem, por várias razões: exigem concentração, exigem uma dedicação mental bastante específica (um estudo, escutar alguém, etc). Outras talvez até permitam (um trabalho manual, uma viagem, uma caminhada, etc). No entanto, fazer uma breve oração, oferecer as intenções de agradar a Deus e estar em sua vontade, pensar frequentemente nele e buscar conhecê-lo, anunciá-lo, bem, isso nunca deixará de ser oração, uma prece cheia de vida, um oxigênio para a alma. Suponho, no entanto, que haja alguns momentos fortes de oração, de um parar diante da Majestade Divina, ouvir o Senhor na meditação de sua Palavra santa. O acordar e o preparar-se para dormir, além de outros momentos, ou alguns outros momentos, deveriam ser momentos fortes para incrementar e manter os fornos da vida interior devidamente aquecidos.

    E Jesus, no Evangelho de hoje, diz que não se deve rezar como rezam os pagãos. De fato, estes rezam multiplicando as palavras, achando que assim serão escutados (veja o texto todo em Mt 6, 7-15). Imaginar que haja uma oração que seja pagã, essa é meio pra quebrar a cabeça pra entender. Pois é! O pior é que existe! Os cristãos devem até mesmo estar atentos para não fazer da oração um meio para dobrar Deus e fazê-lo um mero cumpridor da vontade ou dos caprichos ou mesmo dos bons projetos dos seus servos e filhos. Isso! Yes! Não dá pra tentar dobrar Deus. Ele é o totalmente Outro. Não somos chamados a nos relacionar com o Senhor tentando dobrá-lo para Ele fazer o que queremos.

    Deus sabe do que necessitam os seus filhos. Por isso, ao rezar, o diálogo com Deus deve ser confiante, respeitoso, amoroso. Claro, pode-se pedir o que se deseja, mas é preciso entender ou abrir-se ao fato que quanto mais progredimos nessa amizade com o Todo Poderoso, tanto mais passamos a buscar mais sua vontade que propriamente nossas comodidades ou até mesmo algumas legítimas aspirações ou santos desejos. Será o melhor? Quem mais que o próprio Deus saberá qual seja o melhor para seus filhos?

    Por isso, Filoteu, quando estiveres em oração, lembra-te do grande dom que o Pai do Céu te concede. Conversar com Deus! Nada mal, tudo de bom. Se é chique conversar com a Rainha da Inglaterra, ou com o Papa, ou com o Obama, ou com outros personagens ilustres da cena política, social, econômica ou religiosa, que será conversar com Deus? E mais: Deus está sempre disponível! Sempre! Escuta-nos, envolve-nos e faz-nos experimentar, de um jeito ou de outra o seu amor que é comunicação e comunhão. Por ser invisível, não é menos real! Entretanto, é preciso relacionar-se com Ele na liberdade, sem pôr condições ou impor limites ou criar expectativas como que Sua Majestade tenha que atender ou satisfazê-los. E se Ele "demorar" a te atender, entende uma coisa: a pressa é d'Ele e ele nunca se atrasa, nem se adianta, pois o tempo é dele pois Ele é eterno e também dono da eternidade. O período da espera é uma ótica ocasião para crescer, amadurecer, alimentar e robustecer a fé, a caridade, a esperança. E se Ele não der o que pedires, fica certo: estás sempre no lucro, pois Aquele que, tudo sabe e pode, te dará o que for melhor para seres o que deves ser.

   No Pai-Nosso, Ele nos ensina a pedir o essencial, pois quem vive do essencial não se perde no acessório, no instrumental, não se embaça, não desperdiça energia, nem se engancha nas coisas secundárias. Nem muito menos se perde com bobagens, vaidades e até mesmo coisas que são nocivas para a felicidade n'Ele e segundo sua vontade. O Reino, a realização da divina vontade, reconhecer Deus como santo, suplicar para que não nos falte o necessário e o que for útil para a salvação, o perdão generoso e constante, a coragem de vencer a tentação e crescer. Em uma frase, pede-se que Deus seja Deus e nós nos dispomos a acolher essa libertadora verdade.

     E aí? Reza o Pai-nosso e reza como Jesus rezou e nos ensinou a rezar. Afinal, a oração, diálogo com Deus, amizade com Ele, é antes de tudo deixar-se amar para transbordar esse amor!

      Um abraço e bênção!

domingo, 13 de março de 2011

TENTAÇÃO: UMA POSSIBILIDADE DE CRESCIMENTO. SERÁ POSSÍVEL?

Oi Filoteu!

 
    Esse começo de Quaresma, nesse primeiro domingo, o tema proposto para a reflexão de toda a Igreja foram as tentações sofridas por Jesus.
    Falar de tentação, não se pode, sem falar da meta da tentação que é o pecado. A tentação é sempre uma proposta do mal, uma proposta que chega até as pessoas em um papel bem embrulhado de vantagens, prazeres, facilidades, bem, tudo o que a humanidade de cada um de nós gosto ou aprecia (ao menos para efeitos imediatos). Mas, por dentro, esconde-se uma venenosa realidade, um elemento carregado de virus portador de tantos males e de morte. O pior de tudo é que essa realidade da tentação porta consigo uma roupagem ou um embrulho atraente, ao ponto de viciar. E o pecado é uma doença onde as pessoas vão se acostumando, vão gostando, vão se identificando, vão se deixando prender, amarrar, amordaçar, entorpecer, agonizar e por fim, morrer.
   Em que consiste o pecado? O livro do Gênesis nos fala muito bem dessa proposta do mal, e pra resumir, a proposta é que as pessoas dispensem Deus na própria vida e definam conforme os próprios gostos e conveniências o certo e o errado, o bem e o mal e façam da própria vida o que bem entendem. Ou seja, proclamam a própria independência de Deus. Todo pecado, de algum modo, é concupiscência do poder. E aí, Filoteu? Ser livre não significa fazer o que sente ou viver à reboque dos próprios sentimentos. Não significa ir atrás do mais fácil só pra se gratificar ou idolatrar o prazer, o ter, o parecer, o poder, ou seja, tratá-los como deuses. Ora, a tentação, na sua essência é a proposta não somente de um mal, mas de uma mentira. O tentador é astuto, esperto, insistente, provocador, fino em fazer propostas atraentes e sedutoras. 
    Jesus nos ensina a vencer o mal. Sendo levado pelo Espírito ao deserto, o Senhor vive naquela solidão o seu retiro quaresmal. Jejua severa e longamente. O deserto é lugar do silêncio, da solidão, do vazio e por isso, lugar do encontro com Deus e consigo mesmo. O deserto é, também, lugar do encontro com o mal, pois segundo a tradição, lá habitam os demônios. Fazer silêncio, estar sozinho, buscar a Deus na oração é caminho de luz que nos faz enchergar coisas que talvez não nos sejam lá tão gratificantes. São realidades de autoconhecimento que nos desafiam a uma mudança, um amadurecimento. Uma aceitação que longe de ser uma passiva e resignada acomodação, vem a ser um humilde acolher a própria fraqueza, a miséria que se enxerga em si, mas na perspectiva da mudança, da vida nova, do dar a volta por cima, do mudar critério de ver o mundo, as coisas, as pessoas, a si mesmo, a vida, os acontecimentos. O diabo leva Jesus pra lá e pra cá e propõe tantas coisas. E tais coisas são sempre na linha do poder. Fazer e acontecer, até mesmo aderir em estilo de adoração, ao príncipe deste mundo. E como Jesus vence tantas propostas do filho da iniquidade? Com as Escrituras, interpretando-as corretamente, ou seja, à luz da verdade revelada pelo Pai. Sabe, Filoteu, Jesus não fez milagres, nem fez anúncios corajosos e impressionantes para se projetar a si mesmo. Jesus fez milagres para manifestar que Ele é o Messias, e para ajudar as pessoas a acolherem a manifestação do Reino. Mas, Jesus foi chamado a ser fiel, não a ser um sucesso. Ele nunca se deixou arrastar pelo gosto de quem quer que seja! Ou pelas conveniências ou pelas mentalidades, interesses ou por não sei mais o quê. Ele estava cem por cento engajado em ser aquilo que o Pai queria dele. Por isso, não é nenhuma surpresa que as propostas do diabo giravam em torno de fazer com que Ele fosse um sucesso, um brilhante fazedor de prodígios, um proporcionador de espetáculos impressionantes.
   Ousada mesma foi a proposta que o demônio fez que Jesus o adorasse. Ora, o perfeito adorador do Pai e fidelíssimo cumpridor da sua vontade, Jesus rechaça com sumprema autoridade essa imensa presunção do príncipe das trevas. E nos ensina a fazê-lo também nós. Vê só, Filoteu, lá na cruz, onde o ápice da missão de Jesus se desenrolava no mais profundo drama e da mais sofrida dor (ou oceano infinito de dores de todo tipo), o divino padecente parecia um fracassado. A olho nú, eis uma verdade chocante. Mas, na verdade mais profunda, aquela que a gente só percebe na fé, acolhendo o amor desconcertante e provocador de Deus, vê-se na cruz um vitorioso. A rebeldia que aconteceu junto da árvore do paraíso, aquela da ciência do bem e do mal, pois bem, tal rebeldia foi reparada na árvore da cruz, do servo sofredor, do servo obediente e submisso ao Pai.
   E nós, caro Filoteu, também seremos tentados. E tal verdade é tão evidente que na oração do Pai-Nosso, o Mestre não nos ensina a pedir ao Pai que nos livre ou nos poupe de sofrer a tentação, mas de cair nela, de sucumbir ante as propostas do maligno. E qual a utilidade da tentação? Podemos dizer que ela é útil? Por incrível que pareça, sim! Como assim? Isso mesmo, a tentação tende a ser útil, em vista do autoconhecimento, de viver a prova para alcançar a maturidade, o crescimento. A luta é importante para quem almeja a coroa da vitória. A esse respeito, Santo Agostinho comenta:
    "Com efeito, nossa vida, enquanto somos peregrinos neste mundo, não pode estar livre de tentações, pois é através delas que se realiza nosso progresso e ninguém pode conhecer-se a si mesmo sem ter sido tentado. Ninguém pode vencer sem ter combatido, nem pode combater se não tiver inimigos e tentações".
    
Deus te faça forte e corajoso neste bom combate, Filoteu!

sexta-feira, 11 de março de 2011

Jejum: um polêmico caminho de liberdade!

Oi Filoteu!

   Hoje comento sobre uma das práticas mais tradicionais que faziam parte do kit santificação, não só dos judeus, mas também, de uma forma aprimorada por Jesus, também para os cristãos. Talvez a prática do jejum necessite de alguns esclarecimentos e sem dúvida, carece de uma boa fundamentação, até pra não ser vista como uma prática difícil, enfadonha, pesada, sinônimo de sofrimento inútil ou um penar desnecessário, especialmente no mundo moderno, onde o prazer não só do sexo ou do sono tem lá seus adoradores, mas também, não são poucos os adoradores do comer. Mas, será que jejum diz respeito só a comida? Verás que não, não mesmo! Por isso deixo-te com esta reflexão que preparei. Espero que te seja útil.

A polêmica sobre o jejum, vivida entre os discípulos de João e Jesus é bem ilustrada pelo Evangelista Mateus (9, 14-15). Ora, é preciso idéias claras a respeito. Reflitamos.

Os discípulos de João jejuavam com freqüência. E cobravam de Jesus e de seus discípulos a observância das mesmas práticas. Os discípulos de Jesus estavam na casa de Levi entre comes e bebes e, os seguidores do precursor estavam vivendo a abstinência. Os fariseus, desde o tempo dos Macabeus, instituíram o jejum, duas vezes por semana, pela salvação de Israel. Por ocasião das segundas e sábados, os fariseus não tomavam banho, nem se ungiam, nem cuidavam da aparência externa. Não raro, isso se transformava em um exibicionismo terrível, onde a vontade de reconhecimento e elogios criavam palcos onde a orquestração da vanglória, criava um espetáculos deprimente (veja Mt 6, 16-18). Entretanto Jesus inaugura o tempo escatológico (das últimas realidades) prefigurado pelos profetas. Começou o tempo da alegria, da festa e não se jejua por ocasião da presença do Esposo. Os discípulos de João são ajudados por Jesus a reconhecer que o Reino de Deus é alegria pela pérola escondida que é encontrada. Alguém sente a renúncia por Deus como um peso, há quem tenha medo do rosto alegre de Deus, como se o Reino fosse unicamente sofrimento que joga pra baixo, entristece ou rouba algo de mim. O jejum cristão não é somente abstinência, um mero privar-se de alimento ou de algo. É desejar o encontro com Jesus que salva com sua Palavra poderosa. Para isso, eu me esvazio!

As abstinências de alimentos estão muito ligadas aos que desejam emagrecer, entrar na linha, perder uns quilinhos, etc. Práticas orientais buscam no jejum o eu profundo. O jejum não é um “estranho no ninho” da nossa civilização pluralista e secularizada. Os cristãos, ao invés, são chamados a olhar no jejum, uma ajuda na peregrinação rumo a Cristo. O Senhor não é totalmente presente em mim e na sociedade onde vivo. O Esposo está pronto, mas eu não estou pronto, pois o amor divino ainda não tomou posse de mim totalmente em função de tantos fechamentos e apegos, egoísmos e indiferenças da minha parte. O jejum tem como meta dar um lugar a Cristo, criar um vazio para preencher-me dele, de sua Palavra em minha existência. Abre-me aos outros e às suas necessidades (às mais diversas). A esmola não é dar do que sobra, mas partilhar do que se renuncia, para ser mais livre e amar mais.

A comunidade pós-pascal explicava o jejum no fato mesmo que o Esposo não estaria mais presente. E a sexta-feira da paixão foi o dia em que o Senhor-Esposo foi tirado do convívio dos discípulos seus. Assim, “naquele dia” justificava-se o jejum. Fazemos também memória desse fato e os tempos litúrgicos nos ajudam a atualizar estas alternâncias.

Então, qual a medida certa? Não quero ser presunçoso em dá-la, como também sugiro que ninguém seja medida para os outros. A verdade é Cristo e ninguém é dono de Cristo e, por conseguinte, ninguém é dono da verdade. A Igreja é guardiã e serva da verdade. O jejum não tem sentido quando é compreendido apenas como o pouco ou razoável que se come ou se deixa de comer. Tolice suprema é tentar impressionar Deus com míseras ações religiosas para levar vantagem com Ele. Deus não se deixa enganar, não engana e nele não há engano. O amor de Deus levado até as últimas conseqüências gerará a liberdade que leva ao jejum na recordação do Esposo ausente e à alegria da festa por estar o Esposo presente. Não cabe legalismo neste discernimento e nestas escolhas. O amor de Deus nos dá poder, poder saber e assumir que somos amados, elevados pela amizade de Deus. O Esposo será tirado. A vida cristã não é só festa, é preciso insistir. A cruz assumida e carregada, a renúncia de si, a porta estreita, as exigências das bem-aventuranças, o desapego e a disponibilidade para servir e dar a vida, amar na gratuidade tudo isso constutitui um projeto que desinstala, exige, poda, purifica, corta e amputa tanta coisa que não presta ou que atrapalha a liberdade interior. As provas e purificações proporcionadas por um Esposo que se desvela e torna a velar o próprio rosto faz da caminhada cristã um misto de prazer e angústia, tristeza e espera ansiosa, felicidade; gratificação pelo encontro e desolação pela ausência. Deus sabe o que pede e o que nega de cada alma. Deus sabe também como e porque dá com largueza ou sobriedade os seus dons. Também sabe porque os nega! São seus segredos e suas estratégias para fazer crescer seus amigos. Não cabem comparações! Cada um é cada um para Deus. O novo de Deus se consolida na perspectiva sofrida e redentora da busca e da espera.


 
O jejuar é caminho para formar um coração livre, aberto, forte, alegre. A disciplina do descanso, da alimentação, da distribuição do tempo e na preferência por escolhas mais desafiantes e santificadoras são meios para concretizar esse jejum. Não estacionar nos próprios interesses e motivações egoístas, eis a dica! Além do que, a disciplina intelectual, a ascese dos afetos, a paciência no convívio com os que são mais desafiantes e difíceis oferecem para nós ótimas oportunidades na autêntica vivência desse esvaziamento. A ascese, ou seja, o treinamento exige espírito de disposição. Na superação de si está a liberdade e a felicidade verdadeira, o autêntico crescimento da pessoa. Jejum é prática de gente generosa, pois o coração humilde se constrói também pelo vazio do estômago. Uma barriga prá lá de satisfeita pode não se abrir a meditar com fruto as coisas de Deus. O Senhor Jesus nos deu o exemplo no deserto. O jejum, as vigílias e a oração são meios para bater a porta que gostaríamos que se nos fosse abertas. Em suma, o jejum é, em sua excelente expressão, o vazio para que Deus tome de conta, tome posse e realize a obra de salvação. Que tudo se faça com discernimento e bom senso. É preciso conhecer-se, respeitar prudentemente os próprios limites e nunca se comparar com os outros. A generosidade, medida do amor e a verdade, fonte de liberdade pode fazer acontecer um bom uso dessa ferramenta que nos leva a buscar e cultivar o essencial.
    Um abraço e boa continuação de Quaresma!

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