domingo, 13 de março de 2011

TENTAÇÃO: UMA POSSIBILIDADE DE CRESCIMENTO. SERÁ POSSÍVEL?

Oi Filoteu!

 
    Esse começo de Quaresma, nesse primeiro domingo, o tema proposto para a reflexão de toda a Igreja foram as tentações sofridas por Jesus.
    Falar de tentação, não se pode, sem falar da meta da tentação que é o pecado. A tentação é sempre uma proposta do mal, uma proposta que chega até as pessoas em um papel bem embrulhado de vantagens, prazeres, facilidades, bem, tudo o que a humanidade de cada um de nós gosto ou aprecia (ao menos para efeitos imediatos). Mas, por dentro, esconde-se uma venenosa realidade, um elemento carregado de virus portador de tantos males e de morte. O pior de tudo é que essa realidade da tentação porta consigo uma roupagem ou um embrulho atraente, ao ponto de viciar. E o pecado é uma doença onde as pessoas vão se acostumando, vão gostando, vão se identificando, vão se deixando prender, amarrar, amordaçar, entorpecer, agonizar e por fim, morrer.
   Em que consiste o pecado? O livro do Gênesis nos fala muito bem dessa proposta do mal, e pra resumir, a proposta é que as pessoas dispensem Deus na própria vida e definam conforme os próprios gostos e conveniências o certo e o errado, o bem e o mal e façam da própria vida o que bem entendem. Ou seja, proclamam a própria independência de Deus. Todo pecado, de algum modo, é concupiscência do poder. E aí, Filoteu? Ser livre não significa fazer o que sente ou viver à reboque dos próprios sentimentos. Não significa ir atrás do mais fácil só pra se gratificar ou idolatrar o prazer, o ter, o parecer, o poder, ou seja, tratá-los como deuses. Ora, a tentação, na sua essência é a proposta não somente de um mal, mas de uma mentira. O tentador é astuto, esperto, insistente, provocador, fino em fazer propostas atraentes e sedutoras. 
    Jesus nos ensina a vencer o mal. Sendo levado pelo Espírito ao deserto, o Senhor vive naquela solidão o seu retiro quaresmal. Jejua severa e longamente. O deserto é lugar do silêncio, da solidão, do vazio e por isso, lugar do encontro com Deus e consigo mesmo. O deserto é, também, lugar do encontro com o mal, pois segundo a tradição, lá habitam os demônios. Fazer silêncio, estar sozinho, buscar a Deus na oração é caminho de luz que nos faz enchergar coisas que talvez não nos sejam lá tão gratificantes. São realidades de autoconhecimento que nos desafiam a uma mudança, um amadurecimento. Uma aceitação que longe de ser uma passiva e resignada acomodação, vem a ser um humilde acolher a própria fraqueza, a miséria que se enxerga em si, mas na perspectiva da mudança, da vida nova, do dar a volta por cima, do mudar critério de ver o mundo, as coisas, as pessoas, a si mesmo, a vida, os acontecimentos. O diabo leva Jesus pra lá e pra cá e propõe tantas coisas. E tais coisas são sempre na linha do poder. Fazer e acontecer, até mesmo aderir em estilo de adoração, ao príncipe deste mundo. E como Jesus vence tantas propostas do filho da iniquidade? Com as Escrituras, interpretando-as corretamente, ou seja, à luz da verdade revelada pelo Pai. Sabe, Filoteu, Jesus não fez milagres, nem fez anúncios corajosos e impressionantes para se projetar a si mesmo. Jesus fez milagres para manifestar que Ele é o Messias, e para ajudar as pessoas a acolherem a manifestação do Reino. Mas, Jesus foi chamado a ser fiel, não a ser um sucesso. Ele nunca se deixou arrastar pelo gosto de quem quer que seja! Ou pelas conveniências ou pelas mentalidades, interesses ou por não sei mais o quê. Ele estava cem por cento engajado em ser aquilo que o Pai queria dele. Por isso, não é nenhuma surpresa que as propostas do diabo giravam em torno de fazer com que Ele fosse um sucesso, um brilhante fazedor de prodígios, um proporcionador de espetáculos impressionantes.
   Ousada mesma foi a proposta que o demônio fez que Jesus o adorasse. Ora, o perfeito adorador do Pai e fidelíssimo cumpridor da sua vontade, Jesus rechaça com sumprema autoridade essa imensa presunção do príncipe das trevas. E nos ensina a fazê-lo também nós. Vê só, Filoteu, lá na cruz, onde o ápice da missão de Jesus se desenrolava no mais profundo drama e da mais sofrida dor (ou oceano infinito de dores de todo tipo), o divino padecente parecia um fracassado. A olho nú, eis uma verdade chocante. Mas, na verdade mais profunda, aquela que a gente só percebe na fé, acolhendo o amor desconcertante e provocador de Deus, vê-se na cruz um vitorioso. A rebeldia que aconteceu junto da árvore do paraíso, aquela da ciência do bem e do mal, pois bem, tal rebeldia foi reparada na árvore da cruz, do servo sofredor, do servo obediente e submisso ao Pai.
   E nós, caro Filoteu, também seremos tentados. E tal verdade é tão evidente que na oração do Pai-Nosso, o Mestre não nos ensina a pedir ao Pai que nos livre ou nos poupe de sofrer a tentação, mas de cair nela, de sucumbir ante as propostas do maligno. E qual a utilidade da tentação? Podemos dizer que ela é útil? Por incrível que pareça, sim! Como assim? Isso mesmo, a tentação tende a ser útil, em vista do autoconhecimento, de viver a prova para alcançar a maturidade, o crescimento. A luta é importante para quem almeja a coroa da vitória. A esse respeito, Santo Agostinho comenta:
    "Com efeito, nossa vida, enquanto somos peregrinos neste mundo, não pode estar livre de tentações, pois é através delas que se realiza nosso progresso e ninguém pode conhecer-se a si mesmo sem ter sido tentado. Ninguém pode vencer sem ter combatido, nem pode combater se não tiver inimigos e tentações".
    
Deus te faça forte e corajoso neste bom combate, Filoteu!

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